quarta-feira, 24 de abril de 2024

OS COMUNICADORES DA DESINFORMAÇÃO E AS TÉCNICAS UTILIZADAS PARA A PRODUÇÃO DAS FAKE NEWS

Aqueles que produzem as fake news não as fazem de forma aleatória sem procedimentos ou técnicas, são comunicadores que trabalham para causas abjetas. Tudo é organizado e confeccionado de forma meticulosa, profissional e competente. Esses profissionais, que trabalham em espaços clandestinos, sabem que o fato é somente um significante, que deve ser impregnado de significados, que condizem e respondem aos interesses e ideologias daqueles para quem estão produzindo a mensagem. Eles trabalham com eficiência e tecnicamente agem de duas formas: na primeira copiam a aparência da notícia confiável de forma vazia e oca, na segunda a preenchem com informações, não negam os fatos, de forma mítica e tendenciosa, deformam-os. O objetivo é que o receptor compreenda a notícia, para, em seguida, impor e fazer com que ele responda a mensagem de acordo com o interesse do emissor. Eles mimetizam ou imitam formatos jornalísticos, criando histórias fictícias ou míticas, utilizando-se de sentimentos primários, como ódios e preconceitos, explorando os medos, os desejos e os receios, quanto aquilo que é prejudicial a sociedade, mantendo o que já deveria ter sido transcendido ou emancipado. Sendo assim, a desinformação programada segue falsificando relatos noticiosos. Infelizmente, ela tem sido bem sucedida em sua empreitada, causando uma espécie de esquizofrenia coletiva dentro da Esfera Pública.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

A BANALIZAÇÃO DA VERDADE COM A PROJEÇÃO DAS FAKE NEWS

A função do jornalismo, seja ele impresso, televisivo, radiofônico ou digital, é apurar a fato e reportá-lo, de acordo com as visões das fontes, deixando ao receptor, a responsabilidade da interpretação, com base na sua perspectiva da realidade. Toda notícia é vista de forma subjetiva e crítica, em consonância com aquilo que cada um enxerga e aprende sobre a verdade, mas a sua banalização, ou maior erro, está no fato de acreditar em uma versão, sem verificar a origem de sua procedência, dando credibilidade e projeção as mentiras das fake news.

domingo, 21 de abril de 2024

CONFIGURAÇÃO DA ESFERA PÚBLICA NA ERA DIGITAL

Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão, em 1992, definiu Esfera Pública como o espaço social gerado pela comunicação, mas a sua consolidação se deu muito antes, primeiro sob a influência do comércio renascentista, depois com as revoluções iluministas do século XVIII, como consequência da troca de informações sobre atividade mercantil e de regras públicas reivindicadas pelo mercado. Sendo assim, ela não surgiu motivada por interesses públicos ou sociais, mas, sim, para atender as necessidades do mercado. Portanto, antes de ser pública, a esfera é prioritariamente privada, para defender os interesses privados com relação ao público. Os desejos e os interesses, daqueles que não constituem parte do privado, são submetidos aos interesses daqueles que o controlam. Conclui-se assim que é o mercado, e não as necessidades sociais, que determina as relações comunicacionais. Com isso, todos os meios que comunicam sejam o impresso, o rádio, a televisão e atualmente as redes digitais, onde as relações de mercado continuam determinando as formas comunicacionais, dominam a esfera pública. As plataformas digitais reúnem multidões, e não fazem isso para oferecer conteúdo racional e instrutivo para resolução de problemas de ordem pública ou social, mas sim, para manipular sujeitos por meio de suas paixões e pulsões, para extrair delas dados pessoais, pois estes concentram valor econômico. As redes sociais, assim, como as outras mídias, não respondem em primeiro lugar aos anseios da sociedade, são essencialmente de natureza superindustrial, atendendo prioritariamente as necessidades do capital.

terça-feira, 9 de abril de 2024

“SUPERINDÚSTRIA DO IMAGINÁRIO” POTENCIALIZA E ALIMENTA A “BANALIDADE DO MAL”

A HUMANIDADE VIVENCIA A POTENCIALIZAÇÃO DA “BANALIDADE DO MAL” DISSEMINADA E ALIMENTADA CONSTANTEMENTE PELA “SUPERINDÚSTRIA DO IMAGINÁRIO”. Em 1963, foi lançada a obra Eichmann em Jerusalém, escrita pela filósofa política Hannah Arendt. Nela ficou conhecido o conceito de “banalidade do mal”, concebido graças a sua erudição e potencialidade. Como jornalista da revista The New Yorker, ela acompanhou, nos meses de fevereiro e março de 1963, o julgamento de Adolf Eichmann, oficial da Gestapo, durante o holocausto, e um dos principais responsáveis pela morte de milhões de judeus no campo de concentração de Auschwitz. O conceito desenvolveu-se com a observação da mediocridade do réu, que estava pronto a obedecer a qualquer voz de comando, revelando a sua ignorância e sua incapacidade de discriminação moral. Sendo assim, os clichês e os eufemismos do Terceiro Reich o influenciavam e evidenciavam a sua incapacidade de fazer qualquer coisa que não fosse técnica e burocraticamente ligado a seu trabalho, a sua capacidade de negligenciar o mal, a mediocridade do não pensar personificados e alinhados ao sujeito demente e demoníaco. Com essas observações, Arendt definiu este tipo de comportamento como “banalidade do mal”. Pode-se observar a transposição e a potencialização deste pensamento para os dias de hoje. A forma continua a mesma, o que muda é o conteúdo da mensagem e a técnica responsável pela sua transmissão. Na época do nazismo, a mentira que mais serviu como mensagem-chave foi: “a batalha pelo destino do povo alemão”, cunhada por Hitler e Goebbels que tornou mais fácil o auto-engano dos cidadãos alemães sob três aspectos: “sugeria em primeiro lugar que a guerra não era guerra, em segundo que foi iniciada pelo destino e não pela Alemanha, e, em terceiro, que era questão de vida ou morte para os alemães, que tinham de aniquilar seus inimigos (principalmente, os judeus) ou ser aniquilados.” A lógica particular e subjetiva do discurso facista de hoje segue uma linha semelhante: convence, principalmente, a classe média, de que a ascensão das minorias é uma ameaça ao bem estar da sociedade, que se resume, àqueles que estão no topo da pirâmide, ou seja, nos andares de cima do edifício social. A propaganda nazista era transmitida principalmente pelo rádio e pelo cinema. Os signos eram criados e imediatamente recepcionados pela opinião pública, que aderiu ao discurso, permitindo ao regime dar cabo a uma das maiores atrocidades da história: a execução de seis milhões de judeus. Hoje, diferente daquela época, a mensagem deixa de ser massificada e uniformizada, para se propagar em forma de nichos, por meio das mídias digitais, que se aproveitam da ignorância, da mediocridade do não pensar, tornando a realidade uma confusão, minando completamente o senso crítico dos cidadãos. O processo de disseminação das mensagens é diferente das mídias tradicionais. Na era da televisão, por exemplo, havia um entendimento compartilhado da realidade que nos cerca. O discurso estava concentrado nas mãos de poucos. As novas mídias, diferentes das mídias tradicionais, transformaram todos os cidadãos em formadores de opinião. A comunicação se tornou mais rápida e sem o intermedio dos comunicadores (jornalistas, apresentadores, ancoras) e filtros tradicionais. Na busca por audiência, ao invés de uniformizar ou massificar o público, nas plataformas digitais, os algoritmos têm a tendência de dividi-lo e filtra-lo em nichos ou grupos, veiculando discursos que acentuam esta divisão. Percebendo essa tendência, mesmo que de modo não intencional, a maneira como os algoritmos funcionam favorece a difusão de conteúdos que opõem um grupo a outro, pois são essas as mensagens que geram mais engajamento. Nesse processo, o “mundo comum” se fragmenta. A comunicação deixa de ser de massa e passa a ser feita por nichos, seguindo uma nova lógica. Essa lógica acabou segmentando a sociedade, polarizando-a, por meio de mensagens-chave falaciosas (fake news), disseminadas por novas personalidades. As personalidades que dominavam a lógica do rádio e da televisão, não são mais exclusivas, hoje elas dividem espaço com uma nova espécie típica das novas mídias: o influencer. Este não tem o mínimo cuidado com posicionamento ético, apuração e investigação, não se preocupa com a verdade factual. A mídia tradicional responsável pela veiculação e regulação da verdade se vê ameaçada pelas mentiras disseminadas nas redes sociais, que passam a ser mais críveis que a verdade. Alguns grupos e influencers enaltecem a mentira e descartam qualquer verdade que possa abalar suas ideologias. Assim explica-se a influência e a ascensão da extrema direita em todo o mundo. O poder de convencimento e manipulação, por meio do domínio das redes digitais, explica a polarização da sociedade nos dias de hoje. Isso só foi possível, pois os novos comunicadores (influencers) descobriram que poderiam se beneficiar da “Superindústria do Imaginário”, expressão criada por Eugênio Bucci, professor tilular da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), para se referir as gigantes da internet ou big techs, como Facebook, Instagram, Google e X/Twitter. Por meio delas, esses influencers conseguem direcionar suas mensagens com mais facilidade e exatidão aos targets ou públicos de interesse. Pelos algoritmos, identifica-se as preferências, direcionando ao receptor, que teve sua subjetividade manipulada, a mensagem-chave, que o manterá a serviço do emissor. Hoje, semelhante à Eichmann e ao povo alemão, os cidadãos têm a sua ignorância e falta de senso crítico potencializas e alimentadas pela “Superindústria do Imaginário”.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

PERSUASÃO E CONTUNDÊNCIA DO DISCURSO FACISTA

O poder da comunicação conservadora, que agiu nos bastidores, durante um tempo, preparando o grande golpe contra as instituições democráticas, foi bem sucedido, com a ascensão da extrema direta e sua consolidação ao chegar à presidência. Repetiu-se a receita e a lógica do golpe de 64. O discurso ou a mensagem-chave, que acreditava se ter superado volta a tona, não mais articulado somente pela mídia tradicional (impresso, radio e televisão), e sim pela comunicação digital, desregulada, emitida por qualquer um, tornando-a muito mais perigosa e ameaçadora, pois é produzida por emissores que não se preocupam com a verdade factual, e sim com a recepção e a assimilação do seu discurso pela opinião pública. A lógica particular e subjetiva do discurso facista convence, principalmente, a classe média, de que a ascensão das minorias é uma ameaça ao bem estar da sociedade, que se resume, àqueles que estão no topo da pirâmide, ou seja, nos andares de cima do edifício social. Sendo assim, as classes médias tem sido bombardeadas pelos discursos das fake news, que como em 64, têm provado seu poder de convencimento, com discursos preconceituosos, principalmente racistas, misóginos e homofóbicos, que são reproduzidos massivamente pelas mídias digitais, por várias entidades civis, e principalmente, por instituições religiosas reacionárias. Dessa forma, os que estão na base da pirâmide se sentem cada vez mais vulneráveis, desprotegidos e ameaçados. Essa realidade continua em voga, pois mesmo com a volta da esquerda ao governo federal, esse tipo de comunicação continua sendo extremamente persuasivo, contundente e ameaçador.

segunda-feira, 18 de março de 2024

COMUNICAÇÃO DE NICHOS VERSUS COMUNICAÇÃO DE MASSA

Na mundo digital vivenciamos, uma das maiores crises da comunicação, a era do consumo exacerbado de histórias, que tornam a realidade uma confusão, minando completamente o senso crítico dos cidadãos. Para entendermos isso, é imprescindível que saibamos o processo de construção da comunicação, antes das mídias sociais. Com o advento do impresso, rádio e televisão, a comunicação foi massificada, produzindo uma percepção uniformizada da realidade. Na era da televisão, por exemplo, havia um entendimento compartilhado da realidade que nos cerca. A comunicação estava concentrada na mão de poucos. As novas mídias, diferentes das mídias tradicionais, transformaram todos os cidadãos em formadores de opinião. A comunicação se tornou mais rápida e sem o intermedio dos comunicadores (jornalistas, apresentadores, ancoras) e filtros tradicionais. Na busca por audiência, ao invés de uniformizar ou massificar o público, nas plataformas digitais, os algoritmos têm a tendência de dividi-lo em nichos ou grupos, veiculando discursos que acentuam esta divisão. Sigmund Freud dizia que nada é mais poderoso para ligar um conjunto de pessoas do que encontrar adversários em comum dos quais falar mal. Percebendo essa tendência, mesmo que de modo não intencional, a maneira como os algoritmos funcionam hoje favorece a difusão de conteúdos que opõem um grupo a outro, pois são essas as mensagens que geram mais engajamento. Nesse processo, o “mundo comum” se fragmenta. A comunicação deixa de ser de massa e passa a ser feita por nichos, seguindo uma nova lógica. Essa lógica acabou segmentando a sociedade, polarizando-a, por meio de mensagens-chave falaciosas (fake news) disseminadas por novas personalidades. As personalidades que dominavam a lógica do rádio e da televisão, não são mais exclusivas, hoje elas dividem espaço com uma nova espécie típica das novas mídias: o influencer. Esse tipo de comunicação não tem o mínimo cuidado com posicionamento ético, apuração e investigação, não se preocupam com a verdade factual. A mídia tradicional responsável pela veiculação e regulação da verdade se vê ameaçada pelas mentiras disseminadas nas redes sociais, que passam a ser mais críveis que a verdade. Alguns grupos e influencers enaltecem a mentira e descartam qualquer verdade que possa abalar suas ideologias. Assim explica-se a influência e a ascensão da extrema direita em todo o mundo. O poder de convencimento e manipulação por meio do domínio das redes digitais explica a polarização da sociedade nos dias de hoje. Sendo assim, parece que o otimismo do filósofo, sociólogo e pesquisador em ciência da informação e da comunicação, Pierre Levy, está bem longe do que realmente estamos vivendo: “Não são as minorias que se opõem as mídias digitais, e sim as organizações, cujas posições de poder, os privilégios e o monopólio, sobretudo em relação a soberania sobre a construção de mensagens, discursos e significados encontram-se ameaçados pela emergência dessa nova configuração comunicacional." Na atual conjuntura, parece que estamos mais próximos do pessimismo do escritor, professor e filósofo italiano, Umberto Eco, falecido em 2016: “As redes sociais deram voz a uma "legião de imbecis", que antes não prejudicavam a coletividade.”

sábado, 3 de outubro de 2020

NÃO CONHECEMOS A VERDADE, E SIM A HISTÓRIA QUE NOS CONTAM

A verdade só acontece uma vez, portanto é finita. Já as histórias, que narram a verdade, têm suas particularidades, e estão ligadas a visão e a ideologia dos seus emissores, o que de certa forma limita o aprofundamento e a proximidade da verdade factual. A finitude da verdade fica a mercê da infinitude das histórias narradas. 

O receptor é consumidor de histórias e não de verdades. É moldado pela história que consome, e que consequentemente forma sua visão de mundo, sua ideologia, a forma como concebe a realidade. A verdade é o resultado das CONCEPÇÕES INFINITAS. 


Na era do conhecimento, paradoxalmente, vivemos uma das maiores crises que a informação já conheceu. A humanidade corre o risco de ser a mais desinformada de todos os tempos. Estamos vivendo a era do consumo exacerbado de histórias, que tornam a realidade uma barafunda, minando completamente o senso crítico das novas gerações. 


Por mais problemáticas que pareçam, as mídias tradicionais e especializadas (rádio, televisão, impresso), que também se adaptaram ao digital, são os melhores e mais confiáveis meios de se informar sobre a verdade. 


Atualmente, como qualquer pessoa, sem nenhum tipo de formação técnica, pode reportar a verdade por meio de sua imparcialidade duvidosa, fica difícil o desenvolvimento do senso crítico por parte dos cidadãos. 


A verdade sempre foi manipulada, todos sabemos, mas hoje convivemos com manipuladores de procedência desconhecida. 


As Fake News são as maiores responsáveis pelo que eu chamo de ANTONÍMIA MIDIÁTICA, ou seja, a disseminação de VERDADES FALSAS, que tem grande influência sobre a opinião pública. 

Por mais que a verdade possa ser manipulada, nós os grandes consumidores devemos ter discernimento para separar a manipulação da mentira. A mentira não é beligerante, mas pode ser tão destrutiva quanto, pois deixam seus receptores semelhantes a uma horda de mortos vivos, como vemos no cinema. Pode ser uma hipérbole, mas nestes dias não fica difícil de se identificar com os zumbis do longa-metragem Guerra Mundial Z, protagonizado por Brad Pitt. Por meio deste exagero e ficção, talvez possamos entender melhor a nossa realidade. 


Sendo assim, parece que o otimismo do filósofo, sociólogo e pesquisador em ciência da informação e da comunicação, Pierre Levy, está bem longe do que realmente estamos vivendo:

“Não são as minorias que se opõem as mídias digitais, e sim as organizações, cujas posições de poder, os privilégios e o monopólio, sobretudo em relação a soberania sobre a construção de mensagens, discursos e significados encontram-se ameaçados pela emergência dessa nova configuração comunicacional." 


Na atual conjuntura, parece que estamos mais próximos do pessimismo do escritor, professor e filósofo italiano, Umberto Eco, falecido em 2016, que concluiu: “As redes sociais deram voz a uma "legião de imbecis", que antes não prejudicavam a coletividade.”


por Ricardo Bressan